sexta-feira, 12 de junho de 2009

INSPIRAÇÃO

“Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça”. II Timóteo 3: 16.



“Inspirada por Deus” é a tradução da palavra grega θεόπνευστος (theópneustos) que realmente significa que o próprio Deus revelou tais palavras diretamente ao homem sem nenhum meio intermediário. Convém ressaltar que essa inspiração não se deu por um processo possessivo mental em que o homem perde suas faculdades mentais e fica totalmente “dominado” por seu possuidor, não tendo lembrança posterior do ocorrido enquanto “possuído”. Mas sim, que Deus comunicou ao homem Sua vontade e este revela cônscio do que faz, sem nenhum estágio de transe ou êxtase. Assim cremos que os profetas, apóstolos e outros escritores da Bíblia Sagrada, inspirados por Deus, escreveram as Sagradas Escrituras.
Assim sendo, precisamos rever o uso da expressão: “inspirado por Deus”, no nosso dia a dia, visto que cremos significar uma revelação direta de Deus, infalível, inquestionável, isto é, a Palavra do próprio Deus inerrante, imutável e santa.
Se, cremos que apenas a Bíblia é inspirada por Deus, por que afirmamos que um hino ou uma pregação foi inspirado por Deus? Admitir isso é dizer que o autor do hino recebeu a letra num processo inspiratório semelhante aos escritores bíblicos? Ou que o pregador está recebendo a mensagem num mesmo processo? Se realmente cremos assim, deveríamos acrescentá-los à Escritura, pois “são inspirados”. Contudo, não o fazemos, pois sabemos que um hino ou uma pregação não foram inspirados por Deus, mas, no máximo, inspirados a partir das Escrituras. Sendo assim, o poeta ou pregador estarão sujeitos ao erro, poderão ser questionados, julgados, examinados, poderão dizer o que não está escrito na Bíblia, logo não é inspiração divina como no caso dos escritores sagrados, mas uma interpretação das Escrituras. Neste caso, somos incentivados pelo apóstolo Paulo a julgar os “profetas”, visto que não estão num processo inspiratório como os escritores bíblicos (I coríntios 14: 29). Isto também se aplica aos “profetas pentecostais” de plantão.
Infelizmente o uso da expressão “inspirado por Deus” tem dois aspectos: 1º a ignorância a respeito do seu significado; 2º a malícia de convencer os ouvintes que o próprio Deus está falando por seu intermédio, e por isso não se pode duvidar, questionar ou desobedecer. Cria-se, a partir disso, um domínio “divinal” dos ouvintes. Essa astúcia, praticada por alguns no “meio evangélico”, é uma aberração do chamado cristão para anunciar o Evangelho de Cristo ao mundo. A pregação do Evangelho consiste em levar a salvação pela graça de Deus a todos, deixando o Espírito Santo agir no coração dos ouvintes, tornando-os discípulos de Cristo e não seguidores patéticos de lobos dominadores, que deturpam a Palavra de Deus para fins escusos e egoístas. “São inimigos da cruz de Cristo: O destino deles é a perdição, o deus deles é o ventre, e a glória deles está na sua infâmia; visto que só se preocupam com as coisas terrestres” (Filipenses 3: 18, 19).
Não podemos ignorar que a origem da crença que um poeta compõe a partir de uma inspiração divina remonta a antiguidade grega, ao paganismo. Cria-se que o poeta recebia sua composição poética das Musas (filhas dos deuses gregos). Logo, seus poemas eram “inspirados”. Não é por acaso que chamamos de “música”, pois música significa coisas das Musas. Contudo, sabemos que um poeta utiliza seu talento, esforço e aptidão para compor os poemas e que não há nenhuma espécie de inspiração divina nisso. No caso de um poeta cristão, esse partirá de sua interpretação da Bíblia e utilizará sua arte para glorificar seu Senhor. Os únicos poemas inspirados por Deus são aqueles que estão na bíblia, os livros de: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cantares de Salomão.
Cremos que a Palavra de Deus já foi completada, por isso não há mais inspiração divina, temos a revelação já concluída e agora precisamos estudá-la para conhecê-la cada vez melhor para que “sejamos perfeitos e perfeitamente habilitados para toda boa obra”. (II Timóteo 3: 17).

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