sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

A Parábola da Lamparina

“Ninguém esconde uma lamparina num móvel, depois de tê-la acendido ou a põe debaixo da cama, mas a põe sobre o candelabro, para que os que entram vejam a luz”. Lucas 8: 16. (Tradução do autor).


A parábola da lamparina tem o mesmo propósito da parábola do semeador, visto que Lucas, seguindo Marcos, as coloca lado a lado, dentro de uma mesma temática. Jesus havia tido um encontro com uma mulher na casa de um Simão fariseu. Nesse encontro, Jesus mostrou aos presentes que a Palavra de Deus deve ser anunciada a todas as pessoas indiscriminadamente, isto é, até para uma mulher com fama de pecadora. Com o episódio, pode-se aprender que das pessoas mais improváveis, Jesus pode receber um louvor inigualável.
Simão, o anfitrião, deveria ter honrado seu hóspede segundo a etiqueta da época, isto significaria tê-lo recebido com uma saudação calorosa (beijos), água para a lavagem dos pés e das mãos (rito religioso de purificação, chamado pelos judeus de batismo, Marcos 7:4) e perfume para unção (não se refere a rito religioso). No entanto, nada disso foi feito, mas repentinamente (dificilmente uma surpresa para Simão), uma mulher de má fama entra na casa e sem ser impedida, aproxima-se de Jesus e o toca, chorando e beijando seus pés, passa-lhe perfume. Jesus passivamente assiste toda a cena, provavelmente sabia do “plano”, e então conta uma pequena parábola e em seguida pergunta a Simão: quem ama mais? Quem teve uma dívida pequena perdoada ou aquele que teve uma dívida grande perdoada? Simão responde que quem amará mais é aquele que teve a maior dívida perdoada (7: 41-43). Jesus ainda falando a Simão a respeito da mulher, diz: perdoados lhe são os seus muitos pecados, porque ela muito amou.
Em seguida Lucas seleciona duas parábolas que procuram mostrar a importância de se anunciar a Palavra de Deus a todas as pessoas sem procurar avaliar quem seria digno ou não de ouvi-la. O semeador que lança a semente indiscriminadamente em terras que não são suas e a lamparina que deve estar em lugar visível para que possa iluminar a todos que se aproximam.
Assim, pode-se concluir que as parábolas do semeador e da lamparina são ilustrações inseridas num discurso em que a temática é a pregação da Palavra de Deus a todas as pessoas. Esse discurso é apresentado no episódio em que Jesus visita Simão, o fariseu, e a seguir são apresentadas duas ilustrações para facilitar a compreensão do ouvinte. Essas parábolas não constituem o centro do discurso, mas são periféricas.
Lucas termina essa seção utilizando palavras de advertência de Jesus a respeito de que nada ficará oculto para sempre, os pecados serão manifestos tanto daqueles que julgam não tê-los (Simão) quanto daqueles que notoriamente os admitem (mulher pecadora). E que precisamos ter cuidado com a forma com que ouvimos a Palavra de Deus, pois aquele que tem verdadeiramente aprendido e praticado, crescerá, mas aquele que acha que sabe (não-praticando), na realidade nada sabe e o pouco que talvez saiba, perderá.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

A Parábola do Semeador

“O semeador saiu a semear... parte caiu à beira do caminho... parte sobre a pedra... parte no meio dos espinhos... e parte na terra boa...” Lucas 8: 5-8.


A parábola do semeador, como qualquer outra, descreve a experiência cotidiana de seus primeiros ouvintes. É a partir dessa identificação, que se tem a oportunidade de entender o significado, embora, nem sempre, esse primeiro ouvinte conseguia alcançar o sentido que se propunha, necessitando, assim, de uma explicação, na qual a aplicação era feita. Diante disso, pode-se imaginar a dificuldade que terá um leitor moderno de qualquer parábola antiga, que não encontra nenhuma relação com sua experiência cotidiana. No caso da parábola do semeador, o Senhor Jesus nos deu a aplicação, por isso, apesar de não se identificar com a situação apresentada na parábola, pode-se compreendê-la, sem, contudo, entender plenamente a estória.
Uma vez que a parábola sempre tem relação com o cotidiano do seu primeiro ouvinte, é necessário perguntar: por que alguém semearia na beira da estrada, sobre pedras ou entre espinhos até achar uma terra boa, a qual não conhecia de antemão? Nenhum agricultor faria isso, a menos que não tivesse outra opção para sobreviver. Lucas, no seu livro, nos informa, muitas vezes, que os ouvintes do Senhor Jesus eram pobres (4:18;6:20;7:22 etc), então, não tinham terras para plantar, lhes sobrava a faixa de terra entre a estrada e a propriedade privada ou outra imprestável para o plantio. Esse pobre contava com a “misericórdia de Deus” para achar uma terra que fosse boa e produzisse o necessário para si e sua família por um tempo considerável até uma próxima colheita. Isto significa dizer que a sobrevivência desse pobre dependia do agir de Deus sobre uma natureza “morta”.
Certamente, se reconhece que uma parte no processo de plantar e colher não depende do agricultor, mas é necessário um esforço muito maior do que simplesmente lançar a semente ao chão. Precisa-se selecionar a terra boa, arar, adubar, fazer a cova, lançar a semente, retirar o mato indesejado ao longo do processo de crescimento da planta, regar, colher, armazenar etc. O semeador da parábola, mesmo que quisesse, não poderia fazer tudo isso, a sua dependência de Deus era muito maior que qualquer outro agricultor.
Sabe-se, pela explicação da parábola que o Senhor Jesus nos concedeu, que a semente é a Palavra de Deus (8:11), os tipos diferentes de terra são os corações dos homens (8:12) e as dificuldades para a semente produzir nas terras ruins também são explicadas pelo Senhor Jesus, bem como a produção extraordinária na terra boa é explicada pela retenção e perseverança do ouvinte da Palavra. Mas a razão pela qual alguém semearia de qualquer maneira em qualquer lugar, sem trabalhar a terra que não é sua, não é explicada. Contudo, seus primeiros ouvintes sabiam.
Se nós hoje também soubéssemos, entenderíamos que a pregação da Palavra deve ser feita indiscriminadamente (a toda criatura); que o frutificar da Palavra não depende de nossos esforços, só nos cabe semear; que as terras (as pessoas) não são nossas e nunca serão; que mesmo que a terra for boa (não sabemos de antemão), sua produtividade em relação à quantidade de semente é sem igual (milagre); que o cento a partir de uma semente pode mudar a realidade de muitos famintos, não apenas do agricultor...
Que Deus nos ajude a termos “ouvidos para ouvir” (8:8)!