sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Espirituais

“E eu, irmãos, não pude falar a vocês como a espirituais, mas como a carnais, como recém-nascidos em Cristo”. “A respeito de sermos espirituais, irmãos, não quero que vocês sejam ignorantes”. I Coríntios 3:1 e 12:1. (Tradução do autor).


Apesar das duras advertências feitas pelo apóstolo Paulo aos coríntios, em nenhum momento ele crê que os coríntios não eram salvos pela fé em Jesus Cristo, suas duras palavras procuravam despertá-los para uma vida cristã que demonstrasse a imagem de Cristo através do poder do Espírito Santo. Os coríntios não estavam vivendo uma vida controlada pelo Espírito Santo, mesmo assim, Paulo não diz que não tinham o Espírito Santo. Ao chamá-los de irmãos, ele afirma que O tinham, mas teria de falar-lhes como se não tivessem, isto é, como a carnais. Ao fazer a oposição entre carnal e espiritual, Paulo mostra que existe a possibilidade de se encontrar crentes verdadeiros que, num determinado momento, vivem dominados pelo pecado de tal forma que parecem que não são crentes. No Caso dos coríntios, nos primeiros capítulos, Paulo aponta um grave pecado no qual estavam vivendo, isto é, facção. “Eu sou de Paulo, e eu de Apolo, e eu de Cefas, e eu de Cristo” (1:12). A divisão entre eles era evidência de uma vida em que os desejos carnais dominavam. Semelhantemente aos descrentes, disputavam em grupos separatistas, ignorando a unidade do Corpo de Cristo, em quem foram salvos.
Ao longo da primeira Carta, Paulo procura despertá-los para uma vida espiritual baseada no fruto do Espírito: amor (13:1-3), longanimidade e benignidade (13:4), domínio próprio (13:4-5), bondade (13:5), fidelidade (13:7), mansidão (13:5, 7), alegria (13:6) e paz (13:7). Ele os convida a um caminho melhor, um caminho que os conduzirá a uma vida espiritual. Diante de tantos pecados: facção, imoralidade (5:1), egoísmo (6:7), orgulho (4:3, 7,8), heresia (15:12) e ainda a crença no fato de terem determinados dons e que isso os faziam espirituais. Paulo propõe, no início do capítulo 12, ensiná-los a respeito de uma vida espiritual. Por isso ele começa dizendo que não quer que sejam ignorantes a respeito de como ser espiritual. A mesma palavra que Paulo usa no capítulo 3:1 (pneumatikós), também usa em 12:1. Por que traduzir de modo completamente diferente, se ele ainda está advertindo aos coríntios a deixarem suas práticas carnais e se voltarem para uma vida espiritual? Os coríntios precisavam aprender que o exercício dos dons espirituais não é evidência de uma vida espiritual, visto que os dons são concedidos por Deus mediante sua graça para um propósito específico, não há nos dons nenhuma motivação para gloriar-se, visto que não são concedidos por méritos. Também precisavam aprender que não há um dom comum a todos os crentes, “pois se todos fossem um só membro, onde estaria o corpo?” ( 12:19). Que eles tinham todos os dons é evidente (1:7). Que estavam mergulhados em muitos pecados também é evidente, contudo, o grande propósito da Carta é conduzi-los a uma vida espiritual.