quarta-feira, 25 de março de 2009

STÉPHANOS – COROA

“Todo atleta em tudo se domina; aqueles para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, a incorruptível”. 1º Coríntios 9: 25.



Stéfanos é a palavra grega traduzida por coroa, sua referência no N.T. está relacionada à coroa conquistada por um atleta ou por um general, os quais após realizarem suas conquistas, recebiam como prêmio de seus feitos. É importante ressaltar que, muitas vezes, inúmeros leitores do N.T. são tentados a relacionarem a coroa citada como sendo aquele símbolo real de poder, a qual nós conhecemos como coroa de rei. Contudo, a coroa como símbolo de poder real surge no ocidente por volta do século III de nossa era com o Imperador Constantino, naquele momento era apenas uma tiara, que ao passar dos anos vai sendo transformada no modelo de coroa real que conhecemos hoje. Isso significa que na cultura grega do século I (a.D.) não havia coroa real, apenas coroa atlética ou militar. Logo, toda menção à palavra coroa no N.T. está relacionada ao atletismo ou militarismo.
O que isso nos ensina? Primeiro, nos ensina que a coroa no N.T. não está relacionada à salvação, pois a coroa era concedida por um feito realizado, era o pagamento por esforço que levou à conquista de algo. A salvação, por sua vez, é um presente de Deus, é concedida pela fé gratuitamente, “não vem pelas obras para que ninguém se glorie” (Rm. 3:24; 6: 23; Ef. 2: 8, 9). Segundo, nos ensina que além do presente da salvação concedido ao que crê pela fé, o crente terá uma recompensa pela sua conduta ou obra realizada na sua vida cristã, como disse o Ap. Paulo aos Coríntios na segunda carta “Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo” (5: 10). E mais “Se permanecer a obra de alguém que sobre o fundamento (Cristo) edificou, esse receberá galardão; se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo”. (1º Co. 3: 14, 15). E em terceiro, não existem as tão famosas “pedrinhas na coroa”, as quais muitos esperam receber por cada obra realizada e esperam ter uma coroa cheia de pedras preciosas. Tal coroa não existia no século I (a.D.).
O N.T. cita cinco tipos de coroas relacionadas a cinco atividades cristãs, as quais serão recebidas por crentes que fielmente as praticarem: 1º Coroa incorruptível – dada ao crente que até ao fim manter-se qualificado para a pregação do Evangelho de Cristo (1º Co. 9: 24-27); 2º Coroa da justiça – dada ao crente que amar (desejar, ansiar, valorizar) a vinda do nosso Senhor Jesus Cristo (2º Tm. 4: 6-8); 3º Coroa da vida – dada ao crente que “suportar com perseverança a provação” (Tg. 1: 12); 4º Coroa da glória – dada ao presbítero que pastorear espontaneamente, de boa vontade, sendo modelo (1º Pe. 5: 1-4); 5º Coroa da alegria – dada ao crente que ganha almas (1º Ts. 2: 19, 20).
As coroas podem ser pedidas, “Venho sem demora. Conserva o que tens, para que ninguém tome a tua coroa” (Ap. 3: 11). A salvação não pode ser perdida, pois não foi conquistada por nós e sim, recebida como presente. Já os galardões, se não nos mantermos fiéis, poderemos perdê-los.
Em Apocalipse 4: 10, João nos fala que os vinte e quatro anciãos depositarão suas coroas diante do trono como louvor e adoração àquele que é digno de receber toda honra, glória e louvor. Todas as nossas obras na vida cristã são realizadas para louvor e glória de Cristo, autor e consumador de nossa salvação. Nada que fizermos redundará em glória para nós mesmo, como alguns poderiam pensar que no céu desfilariam com suas “magníficas coroas”, sendo exaltados por suas vidas honrosas aqui na terra. Não, “tudo que fizermos, seja por palavras ou obras, façamos em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai”. (Cl. 3: 17). “O que daremos ao Senhor por tudo aquilo que tem feito por nós?” (Salmo 116: 12). Nada poderemos fazer para pagar nossa salvação, mas as nossas obras devem ser feitas por voluntariedade, gratidão e louvor. Ofereçamos a Cristo o nosso culto racional (Rm 12: 1, 2).

quinta-feira, 19 de março de 2009

Eirene – Paz

“Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um; e, tendo derrubado a parede da separação que estava no meio, a inimizade”. Efésios 2: 14.


Eirene é a palavra grega traduzida por paz, seu significado no Novo Testamento é bastante específico, nela está inserido o conceito de reconciliação entre partes que estão em conflito, esse sentido sempre vai aparecer no Novo Testamento.
A partir daí, estará sempre implícito a doutrina da salvação, a qual estabelece a separação entre Deus e o homem por causa do pecado, isto é, o homem está em conflito com Deus. Esse conflito só é apaziguado quando o pecado, que é a razão da ofensa, for perdoado. Por isso o Ap. Paulo afirma em Romanos 8: 1 que “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo”. A paz só vem com a justificação dos pecados, sem ela o homem permanecerá separado de Deus eternamente. Em Efésios 2 o conceito está implícito ao mencionar paz entre o homem e Deus e entre judeus e gentios.
O homem em toda a sua história precisava de paz com seu criador, no início, no Jardim do Édem, o homem entrou em conflito com Deus. A partir daí estava separado de Deus e precisava de uma reconciliação. O próprio Deus estabeleceu a forma pela qual o homem alcançaria reconciliação, já no início mostrou ao primeiro casal que o pecado é sério e seu perdão custa preço de sangue (Gênesis 3: 21). E que chegaria o dia em que o preço seria pago perfeitamente (Gênesis 3: 15), mas enquanto esse dia não chegasse, o homem deveria mostrar sua fé nele através da simbologia do sacrifício perfeito de Jesus Cristo, seu filho. Mesmo com essa condição estabelecida, o homem sempre procurou um caminho próprio e independente, buscando a paz através de seus próprios raciocínios. Caim é um exemplo disso, sabendo o meio pelo qual alcançaria paz com Deus, decidiu estabelecer seu “caminho para paz”, foi recusado por Deus. A rebelião contra Deus, que já estava no seu coração, o levou ao homicídio de seu irmão (Gênesis 4: 3-8). “Um abismo puxa outro abismo...” (Salmo 42: 7).
Quando Cristo diz: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize” (João 14: 27). A paz pressupõe conflito, a paz sempre será antecedida pelo conflito, quando assumimos a necessidade de paz, assumimos que estamos em conflito. O homem, no seu interior, sempre soube que reconciliação entre si começa com reconciliação espiritual com Deus. Mas sempre procurou ignorar isso e busca uma paz social sem enfrentar e reconhecer seu conflito com Deus. O mundo busca e oferece paz, mas é ineficaz. Por isso Jesus disse que sua paz é oferecida de modo diferente da do mundo, por que a paz de Cristo está fundada nele mesmo, pois disse: “Estas coisas tenho dito para que tenhais paz em mim” (João 16: 33). Isto é, paz verdadeira só através de Jesus, pois nele somos reconciliados com Deus por meio da cruz como disse o profeta Isaías 53: 5 “Mas Ele foi traspassado pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados”. E mais através do Ap. Pedro em Atos 10: 36 “Esta é a palavra que Deus enviou aos filhos de Israel, anunciando-lhes o evangelho da paz, por meio de Jesus Cristo. Este é o Senhor de todos”. E de forma conclusiva através do Ap. Paulo em Colossenses 1:20 “E que, havendo feito a paz pelo sangue da cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, quer sobre a terra, quer nos céus”.
Assim sendo, é inquestionável o sentido de reconciliação na mensagem do evangelho da paz, e não cabe nenhum outro conceito moderno no uso da palavra paz no N.T.

segunda-feira, 9 de março de 2009

O sofrimento dos hebreus revolta Moisés

Êx. 2: 11-15; At. 7: 22, 23



Moisés é em muitos aspectos uma pré-figura de Cristo, sua vida consiste em profetizar a maior e mais importante libertação oferecida à humanidade na pessoa de Cristo, “um profeta semelhante a mim: a ele ouvirás” (Dt. 18: 15) segundo suas palavras.
Observemos os paralelos entre Moisés e Cristo:
Ambos preservados na infância (Êx. 2: 2-10; Mt. 2: 14,15); ambos contenderam com mestres maus (Êx. 7: 11; Mt. 4:1); ambos jejuaram por 40 dias (Êx. 34: 28; Mt. 4: 2); ambos controlaram o mar (Êx. 14: 21; Mt. 8: 26); ambos alimentaram multidões (Êx. 16: 15; Mt. 14: 20, 21); ambos tiveram rostos brilhantes ( Êx. 34:35; Mt. 17: 2); ambos suportaram murmurações (Êx. 15: 24; Mc. 7:2); ambos foram desacreditados no próprio lar (Nm. 12: 1; Jo. 7: 5); ambos oraram em intercessão (Êx. 32: 32; Jo. 17 : 9); ambos falaram como oráculos (Dt. 18: 18); ambos tiveram 70 ajudantes (Nm. 11: 16, 17; Lc. 10: 1); ambos estabeleceram uma ceia comemorativa (Êx. 12: 14; Lc. 22: 19); ambos apareceram após a morte (Mt. 17: 3; At. 1: 3).
Diante de tanta semelhança encontramos aquela que hoje meditaremos: o sofrimento dos hebreus revolta Moisés. Moisés, apesar de viver desde sua infância sob o sistema e cultura egípcia, ser educado em suas tradições, mantinha em seu coração um sentimento de identificação com o seu povo. Chegou o momento de fazer alguma coisa por ele, de ajudá-lo nas suas dificuldades e aflições. Moisés se apresenta, sem saber ainda como ajudar seu povo, sem conhecer os planos e propósitos de Deus, procura resolver o problema na força de sua carne, sem orientação divina, age segundo o mundo e não segundo Deus. Essa circunstância o leva para o lugar que Deus deseja prepará-lo para seu grande serviço. Isso nos traz um grande ensino, não conseguiremos realizar a obra de Deus sem preparação, a preparação do obreiro deve acontecer em duas frentes: 1º a preparação espiritual que vem de Deus através dos dons que ele concede e também do amor, fidelidade, obediência evidenciadas no dia-a-dia na vida da igreja; 2º a preparação no estudo da Palavra de Deus, aplicação à leitura (1º Tm. 4: 13), estudar. Quantos querem pregar, ensinar, mas não querem aprender. É preciso conhecer muito bem as Escrituras e tudo aquilo que a envolve para, então, ensinar corretamente e com toda fidelidade, sem acrescentar ou diminuir nada. Cada igreja, na orientação de sua liderança, deve estar atenta para aqueles que o Senhor tem chamado para a obra e orientá-los, conduzi-los ao conhecimento necessário das Escrituras para serem obreiros aprovados.
Moisés foge do Egito com medo de morrer nas mãos de Faraó e cai nas mãos de Deus, lá no deserto é preparado pelo Senhor para libertar o seu povo. Quanta frustração Moisés não sentira no momento em que queria fazer alguma coisa para Deus, para seu povo, mas o povo o rejeita. Quantos irmãos também querendo servir ao Senhor de todo o coração, são rejeitados pelos homens, mas não devem desanimar, no tempo propício Deus manifestará sua vontade, até a rejeição faz parte da preparação.
O pior que poderia acontecer com Moisés e também com os crentes hoje é a indiferença em relação ao sofrimento da humanidade nas mãos de Satanás e do pecado. Revolta implica, não apenas em tristeza por algo, mas principalmente em fazer alguma coisa para mudar a situação. O crente, à semelhança de Moisés, deve revoltar-se contra o pecado, contra satanás e contra o sistema pecaminoso que domina nossa sociedade. Não existe outra forma de revoltarmos contra o mundo, se não pela pregação da Palavra de Deus. Levar o evangelho a outros é o dever da igreja, precisamos acordar, sair da inércia. Fazer algo concreto, investir os recursos da igreja na Obra de evangelização e não apenas em templos maravilhosos que deixaremos para o anti-Cristo. É hora de perguntarmos: como a minha igreja está se posicionando, com os recursos que Deus tem nos dado, na evangelização do mundo. Evangelizar é revoltar-se contra o pecado.