terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Davi e a arca

1º Samuel 4: 11; 2º Samuel 6: 1-4; 1º Crônicas 13: 9-14; 15: 1-16, 25-29; 16: 13



O papel da arca do concerto no culto israelita do Velho Testamento é fundamental, sem ela o culto não poderia ser realizado, pois representava a presença de Deus no meio do seu povo. Ela era parte integrante do culto e havia várias leis estabelecidas por Deus a seu respeito. Isso nos ensina que o culto deve seguir as diretrizes estabelecidas por Deus, não é o homem, apesar de sua boa vontade, quem deve estabelecer as normas do culto. Vemos claramente nesse episódio a boa vontade de Davi e de Uzá, contudo a Palavra de Deus precisa ser obedecida no culto que a Ele prestamos. Deus havia estabelecido na sua Palavra que o transporte da arca do concerto deveria ser feito pelos levitas através de hastes nas argolas da arca (Êx. 25: 14), deveria ser coberta (Num. 4: 5, 6) e somente os sacerdotes poderiam tocá-la (Js. 6: 6). Nenhuma dessas regras foi observada por Davi e Deus mostrou que o temor a Ele é o princípio da sabedoria, sem o temor e a reverência o culto não será aceito por Deus. Essa passagem deve nos levar a refletir sobre o culto que estamos prestando a Deus, alguns pontos devem ser considerados: 1º. Davi desejava oferecer um culto completo a Deus, a arca do concerto estava longe de Jerusalém, por isso preparou uma grande festa para trazê-la, contudo esqueceu de consultar a forma correta, segundo a Palavra de Deus, de prestar o culto. Deus sempre deve ocupar o primeiro lugar no culto, Ele deve ser o centro, sua vontade deve ser buscada e obedecida. Será que hoje estamos buscando a vontade do Senhor na realização do culto que a Ele prestamos? Quem deve ser satisfeito? Às vezes, queremos que o culto nos agrade ao invés de agradar a Deus. Davi e todo Israel estavam alegres pela volta da arca do concerto, a alegria é essencial ao culto, mas ela não deve ofuscar nossos olhos a ponto de ignorarmos a vontade do Senhor, se assim fizermos a alegria não será permanente. A alegria do cristão não está restrita apenas ao culto, ela deve ser uma constante na vida. 2º. Deus nos constrange a cultuá-lo, o crente tem sede do Deus vivo, jamais conseguirá ficar muito tempo longe do culto. Davi, pela sua tristeza com a morte de Uzá, abandona o culto, não mostra mais interesse na restauração do culto completo. Contudo, Deus o constrange, a bênção de Deus é derramada sobre Obede-Edom durante os três meses em que a arca do concerto esteve em sua casa. Quantas bênçãos Davi e todo Israel estavam deixando de usufruir! Deus continua hoje abençoando aqueles que o cultuam, e muitos que deixam de congregar-se para o culto estão deixando de receber as bênçãos do Senhor. Davi recebe o aviso de que Deus valoriza o culto, suas bênçãos à casa de Obede-Edom mostram seu interesse em ser cultuado. Davi aprendeu a lição, mais do que saber que Deus busca àqueles que querem cultuá-lo em verdade, Deus quer ser obedecido. A Saul, disse: “Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar”, isto é, prestar culto (1º Samuel 15: 22). Tendo conhecido um pouco mais o Senhor, Davi agora realiza a volta da arca do concerto segundo a vontade de Deus estabelecida na sua Palavra. Convida os sacerdotes para transportá-la e realiza os sacrifícios de purificação. O culto está perfeito. 3º. O inimigo sempre procurará usar pessoas para atrapalharem nosso culto, para tirarem nossa concentração, para nos ocupar com tantas coisas, as quais são tão insignificantes que podemos perder o essencial que é um coração contrito e humilde. Mical, esposa de Davi, cumpriu esse papel. Criticou Davi pela roupa que vestia, criticou-o pela manifestação de alegria espontânea e criticou pelo seu excesso de humildade diante de seus servos. Com Mical aprendemos que Deus não está indiferente àqueles que atrapalham o culto dos seus servos, ela recebeu a sua recompensa (2º Samuel 6: 23). Com Davi aprendemos que errar faz parte de nosso aprendizado, mas o erro deve nos conduzir às coisas certas, devemos ter humildade para voltarmos e recomeçarmos da forma correta, também aprendemos que a humildade mostrará a sinceridade do culto, enquanto que a soberba revelará um formalismo sem vida.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Pedagogo

“De maneira que a lei nos serviu de pedagogo para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos justificados por fé. Mas tendo vindo a fé, já não permanecemos subordinados ao pedagogo”. Gálatas 3: 24, 25.



Paidagogos aparece duas vezes no N.T., na carta aos Gálatas e na 1º aos Coríntios. Aos Coríntios, Paulo diz: Porque ainda que tivésseis milhares de pedagogos em Cristo, não teríeis, contudo, muitos pais; pois eu pelo evangelho vos gerei em Cristo Jesus (4:15). O que era um pedagogo? Um escravo, muitas vezes velho e sem condições de realizar nenhum outro trabalho, que conduzia o menino à escola dos 7 aos 18 anos e que deveria estar sempre ao seu lado ensinando e fiscalizando as boas maneiras segundo os valores culturais dos gregos.
Nas duas passagens fica evidente o sentido de inferioridade e transitoriedade do pedagogo. Aos Coríntios Paulo fala da importância fundamental do pai como gerador e educador, o qual tem a preeminência na formação educacional do filho e a última palavra sobre qualquer assunto. Jamais se admitiria que um escravo pudesse conduzir a criança para um caminho no qual o pai não estivesse inteiramente de acordo. Jamais milhares de pedagogos poderiam sobrepujar o pai. Paulo era o pai deles, eles deveriam imitá-lo e não aos muitos “escravos” que surgiam entre eles. O pedagogo não era um professor, era apenas um auxiliar. Assim é evidente que o pedagogo é inferior ao pai.
Aos Gálatas, Paulo enfatiza o fato de que o pedagogo tinha seu ofício limitado pelo tempo, sua função era conduzir a criança por um tempo específico, no qual teria ampla autoridade até ao tempo estipulado. Seu objetivo era cooperar na formação da criança, fiscalizando sua conduta à medida que crescia. Contribuir para que tivesse plena consciência dos deveres de um cidadão de bem. É evidente sua transitoriedade.
As muitas traduções que existem não são capazes de nos fazer compreender o verdadeiro sentido de pedagogo, nelas os sentidos de inferioridade e transitoriedade não ficam evidentes. Com isso fica nos vedado o pleno sentido daquilo que Paulo queria nos dizer. A lei teve seu papel num período de tempo específico, mas agora em Cristo veio a plenitude do tempo onde podemos pela fé alcançar o pleno conhecimento de sua Obra pré-determinada antes de todas as coisas. Agora não precisamos mais de um pedagogo, temos o Espírito de Cristo, que pelo novo nascimento, nos concede a mente de Cristo. A partir de então é inscrito no nosso coração a lei de Cristo revelada no Evangelho, a qual obedecemos por opção e prazer, não mais imposta por um pedagogo, mas aceita por uma mente esclarecida e amadurecida, capaz de perceber aquilo que é agradável a Deus.
O pedagogo da nossa cultura não tem a mesma função do pedagogo da cultura helênica nos dias de Paulo, diante disso percebemos que não há uma palavra exata pra traduzi-la e não podemos transliterá-la. Que Deus nos leve a encarar o texto sagrado com mais seriedade, temor e cuidado para não sermos achados em falta, omitindo ou deturpando o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. Que Deus nos ajude!