segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Piedade

"Eusebéia" é a palavra grega traduzida por piedade, ela ocorre quinze vezes no N.T. Dez vezes ela aparece nas Epístolas Pastorais (Timóteo I e II e Tito). Em 1 Tm.2: 2 mostra-nos que ela deve ser o objetivo de uma vida cristã saudável; em 1 Tm 3: 16 diz-nos que ela precisa ser conhecida, pois não é natural; em 1 Tm 4: 7 somos convocados ao exercício dela; em 1 Tm 4:8 aponta que seu proveito é total; em 1 Tm 6: 3 diz-nos que precisa ser ensinada; em 1 Tm 6:5 são condenados os que fazem lucro financeiro com ela; em 1 Tm. 6: 6 diz-nos que se praticada com alegria traz muitos benefícios ao praticante; 1 Tm. 6: 11 somos conclamados a segui-la; 2 Tm. 3: 5 condena aqueles que apenas aparentam-na, mas não a vive; Tt. 1: 1 fala da verdade que é segundo a piedade, a qual deve ser promovida.
Por ser a língua dinâmica, ou seja, está sempre em processo de mudança, nos deparamos com situações difíceis na interpretação das palavras. Piedade é um exemplo disso, quando se usa essa palavra hoje, a intenção é de apontar alguém que tem um sentimento de compaixão diante de uma miséria qualquer, é usada como sinônimo de pena, dó. Contudo, pena ou dó revelam apenas um pequeno aspecto de piedade (eusebéia), que tem ganhado tanta força que agora se tornou o único sentido utilizado. Diante disso ficamos sem uma palavra que consiga expressar sozinha todo o conceito de "eusebeia". Isso tem levado muitas pessoas a concluírem erroneamente que Deus deseja apenas que tenhamos dó das pessoas, que ser cristão é apenas ter sempre pena dos outros. Diz-se: “nem um “cristão” pra me ajudar!”. Ser piedoso é muito mais que isso. Ser piedoso é amar, temer, respeitar, conhecer, obedecer todos os mandamentos de Deus, incluso nisso também o fato relevante de amar, respeitar e cuidar da família.
A partir do conceito restabelecido de "eusebeia", vamos examinar os versículos citados das Epístolas Pastorais: Devemos orar pelas autoridades para que sejam justas e não impeçam de praticarmos a Palavra de Deus, para que não criem leis que contradigam a Palavra de Deus para que possamos praticar a piedade tranqüilamente; a verdadeira piedade nos foi revelada por Cristo em todos os aspectos de sua vida desde sua encarnação até sua glorificação, agora em Cristo podemos ser justificados diante de Deus, justificação sempre foi o alvo da piedade; a piedade não é apenas um conjunto de conceitos teóricos, ela deve ser praticada, exercitada e seu fruto beneficiará tanto o praticante quanto os que o rodeia; piedade é doutrina, precisa ser ensinada, lembrada, repetida, todos precisam aprendê-la, não pode ser regida por “achismos”, tem de ser segundo a doutrina revelada nas Escrituras; a prática da piedade não pode ser uma atividade comercial, mercadológica, não pode ter o alvo de enriquecer-se; sua pratica com alegria e voluntariedade gerará uma vida integra e plena; amor ao dinheiro, avareza, uso indevido do dinheiro público são ações que revelam impiedade, o piedoso é honesto; a piedade é vivida primeiramente no coração e depois é demonstrada com atitudes sinceras e verdadeiras que perduram; a piedade não pode estar baseada em superstições, fábulas ou revelações de “profetas” que falam segundo suas próprias idéias e que nem conhecem a Palavra de Deus.
A piedade (eusebéia) sintetiza todo o comportamento cristão, sua riqueza precisa ser cultivada, os verdadeiros cristãos serão identificados por uma vida piedosa, a pratica da piedade é uma atividade motivada pelo Espírito Santo na vida daquele que nasceu de novo, cujo objetivo é glorificar a Deus.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

"Post Mortem"

“... Aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos anjos para o seio de Abraão; morreu também o rico, e foi sepultado. No "hádes", por estar em tormentos, levantou os olhos e viu ao longe a Abraão e Lázaro, o mendigo, no seu seio”. (Lucas 16:22, 23).


O pós-morte tem, ao longo dos séculos, trazido muitas aflições à humanidade. Desde a Antiguidade o homem busca uma explicação que lhe traga consolo a respeito do fato inquestionável que todos morreremos. Os gregos acreditavam que a alma era imortal e que ao morrer era levada ao "hádes". Lá não tinha lembranças da vida terrena, a não ser em situações especiais, e estava sujeita a uma eterna escuridão e monotonia. Isto é, era uma situação completamente triste e sem sentido.
Quando o Filho de Deus veio ao mundo trazer a revelação do Pai e iluminar a mente dos homens com o Evangelho da graça de Deus, uma nova esperança surge. O "hádes" poderia ser melhor do que os gregos imaginavam, ou pior.
Melhor, porque o Senhor Jesus nos apresenta um lugar diferente para aqueles que forem salvos por Ele por meio da fé, Ele o chama de seio de Abraão (lugar de consolo e alegria), paraíso (palavra de origem persa que significa jardim) Lucas 23: 43 e, além disso, prometeu “preparar lugar na casa de seu Pai” (João 14: 2, 3).
Pior, porque o Senhor descreveu o "hádes" como sendo um "geena" (lugar onde todo o lixo e restos mortais de animais e criminosos eram lançados e que devido aos gases produzidos pelo lixo, tinha um fogo que nunca se apagava) espiritual, ou seja, muito pior do que os gregos imaginavam.
Hoje, muitos preferem acreditar na mortalidade da alma, pensam que a morte do corpo é o fim da existência humana. Contudo, uma grande salvação é anunciada por Cristo, uma grande esperança: A morte não é o fim, Cristo morreu para pagar o preço da nossa salvação e ressuscitou para mostrar-nos que é maior do que a morte. Essa grande salvação traz-nos esperança, pois ela consiste em dar ao homem uma nova vida, transformando-o de servo do pecado a servo da justiça e garantindo-o um lugar na pós-morte (seio de Abraão, paraíso) de delícias e prazeres sem fim, como descreve o nosso Senhor na passagem acima citada.
Em Cristo, não tememos o pós-morte, pois temos a esperança de um lugar infinitamente melhor do que aqui, “a nossa pátria celestial, de onde aguardamos o nosso Salvador”.
O Evangelho apresenta dois destinos para a alma, para onde irás? Creia em Cristo hoje como seu único Salvador e Senhor, entregue a ele a sua alma e descanse em Sua promessa. “Maranata, ora vem Senhor Jesus”.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

A Missão do Consolador

“Parácletos” é a palavra grega traduzida no evangelho de João (e.g. 14: 7) por consolador, e na 1º carta de João por advogado (e.g. 2: 1). Isso claramente nos mostra a função e missão do Espírito Santo. O Espírito Santo foi prometido por Cristo antes de sua partida para o céu, seu propósito seria: “convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo” (João 16: 8); guiar os crentes a toda verdade (João 16: 13); glorificar a Cristo (João 16: 14); conceder dons espirituais aos crentes (1º Coríntios 12: 7), os quais são relacionados na Palavra de Deus (1º Coríntios 12; Romanos 12 e Efésios 4: 11); além de habitar no crente (João 14: 17) e consolá-lo em todos os momentos difíceis, fortalecendo-o na luta contra o pecado (Gálatas 5: 16, 16).
Vivemos um momento de muita confusão e sincretismo religioso, os crentes em Cristo, muitas vezes chamados de evangélicos, estão cada vez estudando e conhecendo menos a Palavra de Deus. Isso tem deixado muitos à mercê daqueles que não têm um compromisso com a Palavra de Deus, que não querem ensinar ou pregar o Evangelho revelado na Bíblia, mas querem entreter o povo; iludir com uma manifestação sobrenatural, que não tem origem em Deus e que, às vezes, é falsa; explorar a boa fé e muitas vezes enriquecer à custa da ignorância do povo. Para isso têm mesclado o Evangelho com manifestações espíritas e muitas vezes da macumba, candomblé e outras religiões africanas e orientais.
Há, nesse momento, uma epidemia de manifestação sobrenatural em algumas igrejas evangélicas conhecida como bênção de Toronto, essa manifestação de espíritos malignos tem sido confundida por alguns como manifestação do Espírito Santo, no entanto, não há nada semelhante na bíblia, nenhum exemplo de tais manifestações na igreja primitiva registrada pelos apóstolos ou evangelistas, não se enquadram em nenhuma das funções do Espírito Santos descritas na Palavra de Deus.
Tais manifestações, que são: cair para trás, após ser possuído por um espírito passado por um indivíduo que soprou ou, de alguma forma, tocou; receber um espírito que leva o possuído a rir freneticamente sem uma razão real por horas; imitar o som e o movimento de animais num estado de transe; agitar-se no chão sem controle dos movimentos, mas possuído por uma força incontrolável, são provas que muitos estão atrás apenas de manifestações sobrenaturais, sem o menor interesse na Palavra de Deus, como disse o apóstolo Paulo: “Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres, segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se a fábulas.” (2º Timóteo 4: 3, 4).
Meus irmãos orem e vigiem para não serem conduzidos ao erro, fiquem firmes na Palavra de Deus, não desviem nem para esquerda, nem para direita. Não abandonem o evangelho pelas novidades passageiras que não acrescentam nada à fé, mas que trazem apenas confusão e uma falsa sensação de poder espiritual que não tem nenhuma eficácia na luta contra o pecado.




Emerson Rocha de Almeida
Abril de 2008.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

O Verbum Se Fez Carne




“E o verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai”. (João 1: 14).

Verbum é a palavra do latim que significa palavra falada, diferente de scripta que significa palavra escrita. O tradutor da Bíblia, João Ferreira de Almeida, usou um latinismo para traduzir a palavra grega lógos, ou seja, tomou uma palavra do latim, idioma de elevado conceito em sua época, para tentar expressar o sentido da palavra lógos no português. Infelizmente muitos desconhecem esse fato e interpretam a palavra verbo no sentido moderno na língua portuguesa (classificação morfológica que indica movimento, estado ou fenômeno da natureza).

Lógos é uma palavra com conceito riquíssimo, dificilmente se conseguiria traduzir seu complexo conceito em uma palavra. O tradutor optou por um aspecto de lógos.

Na filosofia grega, lógos trazia o conceito de uma força que ordena, governa e cria todas as coisas no universo, para eles o lógos seria a “alma” do universo, sem o lógos o universo seria um caos, sem vida.

No judaísmo o lógos era a palavra falada que tinha em si mesma o poder de criar, fazer, realizar coisas. No Velho Testamento essa palavra foi usada em passagens que nos mostram tal sentido, ex.: “A Palavra de Deus é fogo consumidor” (Dt. 4: 24); “Por minha Palavra fundei a terra...” (Is. 48: 13); “Não é a minha Palavra fogo e martelo que esmiúça a penha?” (Je. 23: 29). Além do mais não podemos esquecer o relato de Gênesis sobre a criação, a qual pela Palavra de Deus foi feita.

João, o autor do evangelho, conhecendo tanto o conceito grego, como o conceito judaico, usado na tradução do Velho Testamento grego e também na tradução do Velho Testamento aramaico, apresenta Jesus Cristo, o Filho de Deus, como Lógos. Contudo, sua descrição do Lógos é mais abrangente, pois o apresenta como uma pessoa, um ser eterno que se tornou humano a partir de um nascimento virginal e que veio com um objetivo específico, salvar os homens dos seus pecados e de suas conseqüências.

Ao apresentar Jesus com essa roupagem, João toca a mente dos gregos destruindo todo o panteão e exaltando, pela razão, a existência de um ser supremo, criador de todas as coisas. Além disso, desvia os judeus da visão de um Messias que viria reinar em Jerusalém e restabelecer o reino davídico a Israel. A Palavra de Deus, poderosa e eficaz está agindo com poder transformador, recriando o homem, plantando nele uma semente regeneradora, formando um povo zeloso e de boas obras. A partir disso fica claro o objetivo do evangelho, o qual não é formar um novo Israel com as mesmas promessas políticas e de prosperidade da velha aliança, mas um Israel espiritual, dotado do Espírito de Deus, peregrino nesse mundo e esperançoso de uma pátria celestial onde habita a justiça e tem a presença do próprio Deus no meio dela.

Emerson Rocha de Almeida

27/05/2008

FARMAKÓS

FARMAKÓS

Farmakós é a palavra grega traduzida por feiticeiro no N.T., mas será que todos nós conhecemos seu conceito no 1º século da nossa era? Infelizmente a palavra feiticeiro não nos dá hoje uma compreensão exata do sentido de farmakós na cultura greco-romana. Farmakós vai dar a nossa palavra farmacêutico, que é aquele que após vários experimentos conclui que uma determinada substância tem um efeito científico sobre certa doença. Ou seja, não existe, na atividade farmacêutica, nenhuma inclinação religiosa, sua ênfase está num método científico conhecido por empirismo, que é a conclusão a partir de experimentos.

O que é um feiticeiro? Segundo o dicionário Aurélio é aquele que encanta através de feitiços. No saber popular é aquele que através de palavras “mágicas” e ritos com objetos consegue convencer a alguém que pode realizar algo desejado com auxílio de forças ocultas sobrenaturais.

Mas o que era um farmakós? Era alguém que comercializava poções “mágicas” a partir de rituais religiosos onde se invocava poderes sobrenaturais sobre determinado “remédio”, o qual teria poderes para realizar qualquer coisa desde curar doenças a resolver problemas de ordem emocional e também concretizar qualquer desejo. Tais poções eram manipuladas com invocações religiosas e se cria que tais espíritos ou deuses “energizavam-nas” para dar-lhes poderes especiais.

No Novo Testamento encontramos várias passagens, as quais condenam tais atos de farmakós (Gálatas 5: 20; Apocalipse 9: 21; 18: 23; 21: 8; 22:15). Diz-nos que aqueles que praticam essas coisas não herdarão o Reino dos Céus, pois são obras originadas no homem e não em Deus.

O que diremos, então, diante daquilo que se apresenta a nós, infelizmente até dentro de “igrejas evangélicas”? Onde temos visto vários farmakós com suas poções “encantadas, energizadas, ungidas, benzidas, com orações fortes” etc, prometendo inúmeros benefícios àqueles que as “receberem ou comprarem”. Segundo o N.T. esses atos são feitiçarias e estão condenados tantos os que oferecem quanto os que recebem. Uns prometem óleos ungidos, outros águas oradas e outros vendem qualquer objeto com a promessa de que se você levar para casa e ter fé aquilo que você anseia será realizado.

No livro dos Atos dos Apóstolos capítulo 19 a partir do verso 18 diz: “Muitos dos que creram (no evangelho de Jesus Cristo) vieram confessando e denunciando publicamente as suas próprias obras. Também muitos dos que haviam praticado artes mágicas, reunindo seus livros, os queimaram diante de todos. Calculando os seus preços, achou-se que montavam a cinqüenta mil denários (1 denário equivalia em média a 1 dia de serviço)”. Isso nos mostra o que é um cristão verdadeiro, aquele que se converteu de suas obras incapazes de justificá-lo diante de Deus e passou a confiar unicamente na obra redentora de Cristo na cruz, rejeitando todo misticismo e seguindo o evangelho de Jesus Cristo, o qual é suficiente para nos apresentar agradáveis diante de Deus e fazer-nos entender qual é o seu propósito para nossas vidas.

Portanto, não dê ouvido aos “farmakoi evangélicos”, pois a Palavra de Deus adverte na 2º Carta de Paulo a Timóteo capítulo 4 a partir do verso 3 que “haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres, segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas”.


Emerson Rocha de Almeida
Setembro de 2008